segunda-feira, 14 de abril de 2008

Escabiose

O que é?
A Escabiose é uma doença contagiosa causada pelo ácaro Sarcoptes scabiei variedade hominis e também pode ser denominada Sarna. É vulgarmente considerada uma Infecção Sexulamente Transmissível porque uma grande parte das transmissões ocorre por essa via.
O ácaro pode ser visualizado à vista desarmada, pois tem cerca de 0,4 mm de diâmetro. É arredondado, translúcido, com quatro pares de patas e tem uma vida muito curta.
A fêmea escava um túnel na epiderme, onde deposita os seus ovos, que originam larvas que se tornam adultas e se reproduzem sobre a pele.
As áreas preferenciais de infecção são os punhos, a zona periumbilical, as axilas, o ventre, as nádegas, a zona entre os dedos, os seios e os órgãos sexuais masculinos. Não afecta o rosto, excepto em crianças pequenas, onde as lesões aparecem sob a forma de bolhas cheias de água.

Transmissão
É transmitida essencialmente através do contacto corporal, nomeadamente sexual, e por via parentérica. Apesar de rara devido ao facto do Sarcoptes scabiei sobreviver pouco tempo longe da pele, a sua transmissão também pode ser feita através do contacto com objectos contaminados (toalhas, cobertores, roupas,…)
A sua transmissão é favorecida por ambientes pouco higiénicos e de grandes aglomerações, como as guerras e as grandes catástrofes, por exemplo.






Sintomatologia
Os sintomas surgem normalmente entre 2 a 6 semanas após a infecção e caracterizam-se pelo forte prurido (especialmente durante a noite, originando dificuldades em dormir) e lesões que incluem eritema, crostas hemorrágicas e escoriações. Se o indíviduo já sofreu anteriormente a doença, devido à resposta imunitária específica, esta manifestra-se-á de imediato.
As galerias dos ácaros têm aproximadamente 1,5 cm de comprimento.

Diagnóstico
A presença de galerias e de prurido é suficiente para o médico proceder ao seu diagnóstico. Todavia, é conveniente proceder à raspagem dos sulcos (ou inserção da ponta de uma agulha por um dos túneis onde o ácaro vive) e sua análise ao microscópio ou lupa, para confirmar a presença dos ácaros.
Mesmo face a esta quase certeza, a confirmação de que se tratava efectivamente de sarna só surge se as lesões cutâneas e o prurido desaparecerem após o tratamento.

Tratamento
O tratamento da escabiose é feito á base de pomadas e higiene correcta e deve ser realizado por todos os elementos do agregado famíliar e outras pessoas conviventes, mesmo que não manifestem sintomas da infecção. O modo de aplicação do tratamento depende da substância: o lindane deve ser aplicado sob a forma de uma camada fina em todo o corpo abaixo do pescoço, que deve ser removida passadas 8 horas por lavagem; o permetrim e o enxofre, é aplicado em todo o corpo abaixo do pescoço ao deitar, em 3 noites, sendo que os paciente podem tomar banho antes de repetir a aplicação e devem lavar-se 24h após a aplicação final; o crotamiton e o benzoato de benzamil aplicam-se do mesmo modo que os antesriores, mas apenas por 2 noites e a Ivermectina, qur é administrada por via oral
A irritação cutânea secundária ao tratamento de escabiose pode ser responsável pela manutenção do prurido.
Deve também proceder-se à desinfecção de roupas pessoais, lençóis, toalhas, cobertores, etc…

Prevenção
A prevenção da infecção pelo ácaro Sarcoptes scabiei hominis passa pela manutenção de uma higiene cuidada, não partilha de objectos de higiene íntima e pelo uso de preservativo durante as relações sexuais.

Números
A sarna é mais frequente em crianças, adultos jovens e pessoas internadas em instituições.
É caracterizada pelos surtos epidémicos de periodicidade variável, entre 10 a 30 anos. Os grandes movimentos populacionais e a miséria condicionam o desenvolvimento de surtos epidémicos, sendo bons exemplos disso as duas grandes guerras que se deram na Europa, 1914-18 e 1939-45.
Devido ao seu carácter muito íntimo e prevalência, é muito difícil contabilizar o número de infectados

Sífilis

O que é?
A Sífilis é considerada a mais grave das Infecções de Transmissão Sexual, exclusivamente verificada no ser humano e causada pela bactéria Treponema Pallidum (Treponema pálido). Também pode ser denominada Cancro duro, Cancro Sifilítico, Mal-francês, Mal-napolitano, Peste sexual, Sifilose, Avariose, Doença do mundo, Mal de franga, Mal de Santa eufémia, Mal espanhol, Pudendagra, Doença gálica, Doença britãnica e Lues. Está frequentemente associada ao VIH.
O Treponema Pallidum é uma bactéria anaeróbia facultativa em forma de espiral (espiroqueta) e tem cerca de 10 micrómetros de comprimento e 0,2 micrómetros de largura. As pequenas dimensões dificultam a visualização microscópica, daí que normalmente seja feita uma observação em fundo escuro.



Transmissão
Pode ser transmitida por qualquer contacto sexual com uma pessoa infectada (oral, anal ou vaginal), uma vez que a bactéria pode atravessar as mucosas mesmo quando estas estão intactas. Contudo, pode ser adquirida devido ao facto das ulcerações ou exsudações entrarem em contacto com uma zona de mucosa ou de pele não íntegra.
Apesar de a bactéria também possa estar presente no sangue, actualmente as transfusões já não constituem um factor de risco, porque os dadores são alvo de grande número de testes médicos, que incluem o teste para esta infecção.
Quando uma mulher sofre de sífilis, esta pode ser transmitida ao feto por via transplacentária, originando a sífilis congénita.
O risco de transmissão é mais elevado nos estádios iniciais da infecção.

Sintomatologia
A infecção tem um período de incubação entre 1 semana e 3 meses, durante o qual a bactéria se multiplica e progride nos vasos linfáticos e sanguíneos. Todavia, os sintomas começam a manifestar-se, em média, 3 ou 4 semanas após o contágio. Se não for tratada na sua fase inicial (Sífilis primária), pode evoluir para outras fases da infecção, podendo causar lesões no coração, cérebro, olhos, ossos e articulações, sistema nervoso, podendo conduzir à morte.


-» Sífilis primária - aparece uma ferida ou úlcera dura, lisa, brilhante e indolor (sifiloma, também designado por cancro), em redor da área do contacto sexual, geralmente sobre o pénis, a vagina ou o recto. Também pode aparecer noutras partes do corpo, como por exemplo nos lábios, na língua, na garganta, nos dedos, nos mamilos ou em outros locais.
O Sifiloma começa como uma pequena zona vermelha saliente que se converte numa ferida aberta, que se mantém indolor, com diâmetro de 0,5 a 2 cm. A ferida não sangra, mas ao tocar-lhe liberta um líquido que é deveras infeccioso e os gânglios linfáticos próximos aumentam de volume. Como a lesão causa tão poucos sintomas, normalmente é ignorada, estimando-se que cerca de metade das mulheres infectadas e um terço dos homens infectados não sabem que a têm. Costuma sarar em 3 a 12 semanas, mesmo sem tratamento, o que faz com que as pessoas pensem erradamente que estão curadas.

-» Sífilis secundária - inicia-se com uma erupção cutânea caracterizada pela sua cor rosada, que surge normalmente 9 a 90 dias após a sífilis primária. Cerca de 25% dos infectados ainda têm uma ferida a sarar durante esta fase, que pode durar pouco tempo ou prolongar-se durante meses. Habitualmente desaparece, mesmo sem o indivíduo receber um tratamento, podendo contudo aparecer de novo semanas ou meses mais tarde. São frequentes as úlceras na boca (80% dos doentes), gânglios linfáticos inflamados por todo o corpo (50% dos doentes), inflamação nos olhos (10% dos doentes), inflação nos ossos e articulações (10%) e meningite sifilítica aguda num número reduzido de pessoas. Ao contrário do que acontece com outras erupções semelhantes, as lesões afectam as palmas das mãos e as solas dos pés. Também podem ocorrer sintomas como sensação de mal-estar, perda de apetite, náuseas, vómitos, fadiga, febre, garganta dolorida, anorexia, dores de cabeça queda de cabelo, gastrite, colite ulcerativa, artrite, periostite, anemia,etc. Nesta fase, a pessoa infectada é altamente contagiosa.

-» Sífilis latente - esta fase da doença caracteriza-se pela ausência de sinais ou sintomas da infecção, que pode permanecer em estado de latência anos, décadas ou até o resto da vida. Se os doentes forem co-infectados com HIV, o periodo de latência pode ser encurtado de forma significativa.
É denominada sífilis latente precoce se a duração da infecção for inferior a um ano e tardia se tiver duração desconhecida ou superior a uma ano. Em certos casos, a sífilis fica latente de imediato, ou seja, não se manifesta nem pela úlcera nem por qualquer dos outros sintomas habituais das sífilis primária e secundária.

-» Sífilis terciária ou tardia - neste estádio a sífilis não é contagiosa e os sintomas podem oscilar entre ligeiros e devastadores e surgem, em média, 5 a 20 anos após a sífilis primária.

-» Sífilis cutaneomucosa - é muito rara na actualidade e aparece normalmente nos primeiros 15 anos após a infecção inicial. Surgem gomas e tubérculos que crescem lentamente, saram de forma gradual e deixam cicatrizes. As gomas são lesões nodulares da pele, indolores e destrutivas, com consistência de borracha. Podem aparecer em quase todo o corpo, sendo mais comuns abaixo do joelho, na parte superior do tronco e no couro cabeludo. Os tubérculos são nódulos dérmicos, eritematosos, acobreados, indolores, arciformes, podem ser descamativos ou crostosos, com uma evolução lenta e com possibilidade de ulcerar.

-» Sífilis osteomuscular - surge em geral nos primeiros 15 anos de evolução da doença. Os ossos são fortemente afectados, provocando uma dor profunda e penetrante que se costuma agravar á noite.

-» Sífilis cardiovascular - costuma aparecer 10 a 25 anos após a infecção inicial. Pode desenvolver-se um aneurisma da aorta ou uma insuficiência da válvula aórtica. Estas perturbações podem causar dor no peito, insuficiência cardíaca ou morte.

-» Sífilis do sistema nervoso (neurossífilis) - afecta cerca de 5% dos sífilicos não tratados. As três classes principais são:
- Neurossífilis meningovascular - forma crónica de meningite. Quando o cérebro fica afectado, os sintomas são dor de cabeça, vertigem, falta de concentração, cansaço e falta de energia, dificuldade em conciliar o sono, rigidez da nuca, visão turva, confusão mental, convulsões, tumefacções do nervo óptico (papiledema), anomalias nas pupilas, dificuldade em falar (afasia) e paralisia de uma extremidade do corpo. Quando tanto o cérebro como a medula espinal ficam afectados, verifica-se dificuldade crescente em mastigar, engolir e falar; debilidade e atrofia dos músculos do ombro e do braço; paralisia lentamente progressiva com espasmos musculares (paralisia espástica); incapacidade para esvaziar a bexiga e inflamação de uma secção de espinal medula, que progride para uma perda de controlo da bexiga e uma paralisia repentina, enquanto os músculos permanecem relaxados (paralisia flácida).

- Neurossífilis parética - começa gradualmente com uma série de alterações de comportamento nas pessoas que têm mais de 40 ou 50 anos, que lentamente se tornam dementes. Os sintomas podem incluir convulsões, dificuldade em falar, paralisia temporária de metade do corpo, irritabilidade, dificuldade de concentração, perda de memória, perda de capacidade de discernimento, dores de cabeça, dificuldade respiratória, fadiga, letargia, desmazelo com a higiene pessoal, mudanças de humor, perda de força e energia, depressão, delírios e falta de perspicácia.
- Neurossífilis tabética (tabes dorsal) - é uma doença progressiva da espinal medula. Geralmente o primeiro sintoma é uma dor intensa e pungente nas pernas, que aparece e desaparece de forma irregular. A pessoa desequilibra-se ao andar, principalmente na escuridão; como não consegue sentir quando é que a bexiga está cheia, a urina acumula-se e produz uma perda de controlo da bexiga e infecções urinárias constantes. É frequente o homem tornar-se impotente. A pessoa pode ter tremores na boca, na língua, nas mãos e em todo o corpo. A caligrafia torna-se trémula e ilegível. A maioria das pessoas são delgadas e o seu rosto tem um aspecto triste. Têm espasmos de dor em vários órgãos. Devido à falta de sensibilidade nos pés, podem aparecer úlceras abertas nas suas plantas. Como a pessoa perde a sensação de dor, as articulações podem ficar lesionadas.

-» Sífilis congénita - durante a gravidez, a mãe sífilitica pode transmitir a bactéria ao filho, sendo que uma grande parte das crianças nesta situação já nascem mortas. O risco de infecção é tanto maior quanto mais próximo do termo se encontrar a gravidez e quanto mais recente for a sífilis materna.
A sífilis congénita precoce, que se manifesta durante os dois primeiros anos de vida, traduz-se por lesões da pele, das mucosas, do fígado, do baço, dos ossos, dos pulmões, dos olhos e dos rins.
A sífilis congénita tardia, que se manifesta entre os dois e os dez anos de idade, traduz-se por lesões da pele, das mucosas, dos olhos, dos ouvidos, dos dentes (incisivos centrais superiores espaçados e com um entalhe central, ao sexto ano os molares ainda têm as suas raízes), das articulações e do sistema nervoso.
A morte por sífilis congénita normalmente acontece por hemorragia pulmonar.

-» Sífilis decapitada - é o nome dado à sífilis adquirida por transfusão sanguínea, porque não apresenta a fase primária, tendo início directamente na fase secundária. Actualmente este tipo de transmissão é quase impossível, porque o sangue dos dadores é submetido a vários testes que visam prevenir exactamente estas situações.

Diagnóstico
Através da observação dos sintomas, o médico pode suspeitar de que uma pessoa tem sífilis, mas só as análises laboratoriaispodem confirmar ou não as suspeitas, constituindo o diagnóstico.
Podem ser realizados dois tipos de análise de sangue:
-» Testes Não Treponémicos - análises de controlo, como a VDRL (iniciais de Laboratório de Investigação de Doenças Venéreas) ou RPR (Reagina Rápida do Plasma). Estes testes baseiam-se na detecção de anticorpos não treponémicos, sendo normalmente usado o antigénio Cardiolipina. Estas análises podem dar resultados falsos positivos, mas que se tornam negativos quando se repetem as análises após um tratamento adequado. Mesmo que os resultados sejam negativos, as análises devem ser repetidas, devido ao período de incubação da infecção.
-» Testes Treponémicos - análises, normalmente TPHA (Hemaglutinação passiva do Treponema Pálido) ou FTA-ABS (Anticorpos Treponémicos Fluorescentes ABSorvidos), que detectam anticorpos específicos para o treponema. Apartir do momento que uma análise é positiva, todas as seguintes serão positivas, mesmo após um tratamento bem sucedido. Contudo, os valores vão diminuindo até valores muito baixos após um tratamento eficaz.

Nos casos de sífilis primária e secundária, esta também pode ser diagnosticada através da recolha da amostra de líquído de uma úlcera e sua análise ao microscópio, para identificação das bactérias. As análises serológicas não são úteis para confirmar ou não o diagnóstico nos casos sífilis primária.
Para a neurossífilis, efectua-se uma punção lombar para realizar uma pesquisa de anticorpos.
No estádio latente, só se diagnostica através de provas de anticorpos efectuadas com amostras de sangue ou líquido espinal.

Tratamento
O tratamento da sífilis é barato, fácil e eficaz se for levado a cabo nos primeiros estádios. Se a infecção não for diagnosticada aos primeiros sintomas, pode tornar-se um problema muito sério.
A terapêutica da sífilis deverá ser adaptada ao estádio da doença. O antibiótico mais usado para o tratamento da sífilis, devido à sua eficácia, é a penicilina, que cura a doença, impede a sua progressão, mas não resolve as sequelas. Caso o indivíduo seja alérgico a esta substância, pode ser administrada Tetraciclina ou Eritrocimina.
Mais de metade das pessoas com sífilis primária ou secundária desenvolve uma reacção de Jarisch-Herxeimer de 2 a 12 horas após o primeiro tratamento. Esta reacção acontece devido à morte súbita de milhões de bactérias e tem como sintomas mal-estar, febre, dor de cabeça, vómitos, sudação, arrepios com tremores e agravamento temporário das úlceras sífilíticas.
O controlo serológico deve ser efectuado aos 3, 6 e 12 meses após o fim do tratamento e deve ser continuado anualmente, devido à possibilidade de reactivação endógena da sífilis ou re-infecção, pois a sífilis não confere uma imunidade permanente..

Prevenção
O único meio totalmente eficaz na prevenção do contágio da Sífilis por transmissão sexual é a abstinência de qualquer tipo de contacto sexual.
Em caso de relações sexuais, o uso do preservativo reduz o risco de infecção.
Outros modos de prevenir uma eventual infecção podem ser a adopção de comportamentos sexuais seguros, privilegiando õs relacionamentos estáveis,
A prevenção da sífiilis congénita é feita realizando testes de despiste da sífilis durante a gravidez.
A identificação da doença e o tratamento adequado são as formas de controlo para evitar novas contaminações.

Números
O número de pessoas infectadas com o Treponema pallidum atingiu o seu auge durante a Segunda guerra Mundial. Depois, devido à difusão da penicilina, decresceu até à década de 60, altura em que voltou a aumentar.Houve um novo decréscimo nos anos 90, mas actualmente verifica-se uma nova tendência para subida.
As incidências mundiais mais elevadas da sífilis situam-se na África subsahariana (1,37%), seguida da América do Sul e central (0,52%). O valores na Europa e na América do norte são semelhantes (0,09%).
Em 2005 foram declarados 21 novos casos de sífilis congénita e 103 de sífilis precoce, em Portugal. Contudo estes números estão aquém do que se passa na realidade, mesmo sendo a Sífilis (congénita e precoce) uma Doença de Declaração Obrigatória. A Sífilis latente e a terciária não são consideradas Doenças de Declaração obrigatória.
É mais frequente entre os 15 e os 45 anos de idade, e apesar de afectar os dois sexos de igual modo, é mais fácil de detectar no sexo masculino.

A Sífilis surgiu de um modo súbito e catastrófico na Europa em 1494/1495. Uns acreditam que foi trazida da américa por Cristóvão Colombo e seus marinheiros, outros defendem que resultou de mutações que tornaram uma doença antiga mais virulenta no séc. XVI.
Esta infecção propagou-se de um modo alarmante entre os soldados de vários exércitos, o que fez com que surgissem designações como “mal francês” e “ mal espanhol”, por exemplo..
Originalmente não havia nenhum tratamento para sífilis, sendo comum tratar com mercúrio
A designação de Sífilis foi adoptada a partir o século XVI e atribui-se a Girolamo Fracastoro (1478-1553), que relatou em verso a história de uma pastor de nome Syphilus (Sífilis) que estava infectado com a doença.
A bactéria Treponema Pallidum foi identificada em 1905 por Schaudin (1871-1906) e Hoffman (1868-1959).
Em 1906 surgiu o primeiro teste para a sífilis, o teste de Wassermman, baseado na reacção serológica anti-cardiolipina
Em 1943 foram publicados, pela primeira vez, resultados do tratamento da sífilis com penicilina.
Em 1932 decorreu um estudo em Tuskegee (Alabama, EUA) que consistiu no uso de 616 negros americanos, que permaneceram sem tratamento, para avaliar o curso natural da sífilis. Este estudo foi muito polémico porque já existia tratamento efectivo para a Sífilis.
A 17 de Julho de 1998, na revista Science, um grupo de biólogos reportou a sequência exacta do genoma do Treponema Pallidum.

Uretrites/Cervicites

O que é?
As uretrites são doenças infecto-contagiosas dos orgãos genitais e urinários, que podem dividir-se em gonocócicas e não gonocócicas. As gonocóciccas são causadas pelo gnococo Neisseria gonorrhoeae, sendo normalmente tratadas por gonorreia (tratada à parte) e as não gonocócicas, ou não específicas, são caudas na sua maioria pela bactéria Chlamydia trachomatis, que quando afecta a mulher surge geralmente como cervicite. Também é muito frequente ocorrerem por ureaplasma urealyticum, originando na mulher as vaginites.
A Chlamydia trachomatis é uma pequena bactéria que só se reproduz dentro das células eucariontes. É constituída por estruturas esféricas com diâmetro de 200 a 400 nm. Não é cultivável in vitro, mas embora dificilmente, desenvolve-se em sistemas celulares de cultura.
A bactéria Ureaplasma urealyticum também é muito pequena e, apesar de não ter parede celular rígida, pode reproduzir-se fora das células. Privilegia a relção de comensalismo.

Transmissão
A uretrite não específica tem um período de incubação entre 15 e 30 dias. A sua transmissão por via sexual ocorre na sua maioria associada às Chlamydia Trachomatis e Ureaplasma urealyticum.


Durante o parto, a infecção materna pode transmitir-se ao recém-nascido.

Sintomatologia
No homem, os sintomas passam pela sensação de falsas vontades de urinar, e provocam dor, ardor, prurido e perda de sangue durante a micção. Pode haver emissão de secreção purulenta. Ás primeiras horas da manhã o or+ificio do pénis costuma ter uma coloração avermelhada e os seus bordos estão colados devido às secreções secas. Calcula-se que entre 10 a 25% dos homens não têm sintomas.
Na mulher, geralmente não provoca sintomas (70% dos casos), a não ser que haja complicações. Porém, pode verificar-se dor ao urinar, micções frequente e dores no baixo ventre (essencialmente durante as relações sexuais), secreções vaginais de muco amarelado e pus.
A pessoa assintomática pode transmitir a doença.
Se a infecção não for tratada, os sintomas existentes desaparecem após cerca de 4 semanas. Todavia, podem gerar-se várias complicações. No homem, pode originar infecção no epididimo, estreitamento da uretra e conjuntivite, que se manifestam por dor nos testículos, obstrução do fluxo da urina e dor e secreção ocular, respectivamente. Na mulher podem originar infecção das trompas de falópio, Infecção do fígado e conjuntivite, que no primeiro caso podem ser reponsável pela sensação de dor, gravidez ectópica e esterilidade, no segundo caso por dor na parte superior do abdómen e no que respeita à conjuntivite, a sensação de dor e secreção ocular. Nos recém nascido pode originar conjuntivite purulenta, rinofaringite e pneumonia.

Diagnóstico
Os sintomas acima enunciados são a base de um primeiro diagnóstico, que é complementado com a realização de exames específicos da urina, serologia ou observação com uso de Microscópio.
São usadas provas de imunofluorescência directa, com recurso a anticorpos monoclonais - simples, económicas, de fácil estandardização e mais susceptíveis de erro; provas de detecção antigénica com recurso à técina ELISA, e às técnicas de amplificação dos ácidos nucléicos LCA e PCR, Reacções em cadeia da ligase e da polimerase, respectivamente - mais sensíveis, mais específicas e de custo elevado; Cultura em linhas celulares susceptíveis in vitro - 100% especifíca, sensibilidade variável, morosa, díficil e dispendiosa.

Tratamento
O tratamento faz-se com a hidratação do doente e a administração oral de antibióticos, que podem também ser administrados por via endovenosa nos casos mais complicados. O mais adequado é o Ceftriaxone, seguido de Doxiciclina, podendo ser usada também a minociclina ou a azitromicina.
Os parceiros sexuais também devem ser tratados e o tratamento deve ser acompanhado de abstinência sexual.
A percentagem de curas é de aproximadamente 85%, mas mesmo assim é necessário o acompanhamento médico durante três meses após o tratamento.


Prevenção
As pessoas mais predispostas são os diabéticos, as grávidas e os homens ou mulheres com promiscuidade sexual, lesões obstrutivas da uretra ou disfunção da vesícula.
Estes grupos de risco têm que ter especial atenção, mas não quer dizer que são os únicos, todos temos que ter cuidado, nomeadamente no que respeita à higiene a ao uso de preservativo durante as relações sexuais. É igualmente importante fazer exames ginecológicos com regularidade, no caso das mulheres.

Números
É verificada uma maior prevalência no sexo feminino. Segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde, em 1995, surgiram 89 milhões de novos casos, sendo a maior incidência na África Subsariana e na América do Sul.

SIDA


A SIDA é a Sindrome da ImunoDeficiência Adquirida e é causada pelo vírus da imunodeficiência adquirida (VIH)

Seropositivo / Doente
Um seropositivo é uma pessoa que está infectada com o VIH, mas não apresenta sintomas. Quando o vírus se torna activo vai provocar o enfraquecimento do sistema imunitário e aparecem os primeiros sintomas, estando o individuo doente de SIDA.

Transmissão

Transmite-se por:

- Relações sexuais desprotegidas;
- Contacto com sangue infectado;
- Durante a gravidez ou pelo leite materno;
- Inseminação artificial;
- Partilha de material para injecção de droga, instrumentos cortantes e de perfuração de pele.

Não se transmite:

- Por partilhar pratos, talheres, copos ou roupa;
- Por abraçar, beijar ou acariciar;
- Por partilhar casas de banho;
- Tosse ou espirro;
- Através da picada de insectos;
- Na relação dia-a-dia com pessoas infectadas.

Evolução
A evolução da SIDA pode ser dividida em três fases:

- Infecção aguda - surge algumas semanas após a contaminação, com febre, calafrios, dor de cabeça, dor de garganta, dores musculares pelo corpo, gânglios linfáticos aumentados e manchas na pele que desaparecem após alguns dias;
- Infecção assintomática - tem duração variável, de meses a anos;

- Doença sintomática - manifestação mais grave da doença, a pessoa vai perdendo a sua imunidade e vão surgindo doenças oportunistas, tumores raros e formas graves de outras doenças.

Diagnóstico
São realizados exames de sangue específicos para a detecção do VIH ou dos seus anticorpos. O aparecimento de anticorpos detectáveis por exames ocorre 6 a 12 semanas após a infecção inicial.
O diagnóstico pode ser feito gratuitamente e de modo confidencial em qualquer Centro de Aconselhamento e Detecção precoce do VIH (CAD).

Tratamento
Não existe tratamento para a SIDA. Os vários fármacos desenvolvidos apenas permitem controlar a doença.
O abandono do tratamento e o uso incorrecto dos medicamentos são as maiores causas do elevado número de óbitos.

Prevenção

- Usar correctamente o preservativo durante as relações sexuais;
- Não partilhar o material usado na injecção de drogas;
- Não partilhar instrumentos cortantes como lâminas de barbear.

Cancro Mole

O que é?
O Cancro Mole (Ulcus molle) é uma infecção sexual muito contagiosa causada pela bactéria Haemophilus Ducreyi e também pode ser denominada Úlcera Mole, Cancro Venéreo Simples, Cancro sifílitico mole, Cavalo e Cancróide.
É uma infecção endémica das regiões tropicais e subtropicais e facilita a transmissão do VIH.
O Haemophilus Ducreyi é um pequeno bacilo anaeróbio facultativo, com dimensões de 1,5 x 0,5 micrómetros, com tendência à formação de cadeias (estreptobacilos), sensível aos desinfectantes, imóvel e difícil de cultivar em laboratório. O seu nome deriva do bacteriologista Ducrey, que foi o primeiro a vizualizá-la, em 1889.
Apesar do nome, o Cancro mole não é uma neoplasia (cancro), mas sim uma doença infecciosa.

Transmissão
É exclusivamente transmitida através do contacto sexual com uma pessoa infectada, podendo ser transmitida desde o início das lesões até à sua cicatrização

Sintomatologia
A infecção tem um período de incubação entre 3 a 14 dias (contudo, pode chegar às 3 semanas), aparecendo depois bolhas pequenas e dolorosas que rompem em 2 ou 3 dias, formando úlceras superficiais. As bolhas podem aumentar de tamanho e unir-se entre si.
O Cancro mole tem uma base mole, avermelhada, muito doloroso, com fundo purulento amarelo-esverdeado, sangra facilmente, de forma irregular e com dimensões entre 1 e 50 mm.
É muito frequente, especialmente no sexo masculino, os gânglios linfáticos da virilha ficarem muito sensíveis, aumentando de tamanho e unindo-se, formando um abcesso, que acaba por rasgar-se, derramando o pus sobre a pele.
No homem, localiza-se essencialmente na glande do pénis, escroto ou lados do pénis; Na mulher, pode apresentar múltiplas lesões nos pequenos e grandes lábios. São raras lesões extra-genitais.
Acontece com frequência a co-infecção do cancro mole e da sífilis.



Diagnóstico
O diagnóstico desta infecção baseia-se no seu aspecto clínico e nos resultados das análises quanto a outras causas de úlcera.
São recolhidas amostras de pus de uma lesão, isola-se a bactéria, procede-se ao cultivo e depois analisa-se com o microscópio e técnicas de bioquímica. Contudo, este é um procedimento de grande dificuldade, tornando muito complicada a confirmação de qualquer suspeita.

Tratamento
Os tratamentos mais rápidos parecem ser os mais eficazes. É administrado um antibiótico ao doente, Ceftriaxona ou Eritromicina, e com uma seringa elimina-se o pus acumulado nos gânglios linfáticos inflamados.
Após o tratamento o doente deve ser controlado pelo médico durante pelo menos três meses, para que se certifique que a doença está curada.
As lesões iniciais e de pequeno tamanho podem tratar-se por meio de uma simples lavagem com água e sabão, seguida da aplicação de panos quentes, mas por vezes isto leva apenas a uma cura aparente.
A doença não desaparece sem tratamento, surgindo novas ulcerações em volta da primeira.

Prevenção
A prevençao de uma eventual infecção por Haemophilus Ducreyi passa pelo uso do preservativo durante as relações sexuais e pela manutenção de uma higiene íntima cuidada.
É muito importante proceder também ao controlo dos contactos sexuais, para proceder ao tratamento imediato dos parceiros, se infectados.
Mais, o facto de ter sofrido desta doença não confere qualquer tipo de imunidade, correndo sempre o risco de um novo contágio.



Números
O Cancro mole é prevalente nos países em desenvolvimento de África, ásia e América Latina. Na América do norte e na Europa é pouco frequente, observando-se pequenos surtos sobretudo em grupos de baixo nível socioeconómico e com hábitos de promiscuidade sexual. Predomina no sexo masculino, sendo a mulher muitas vezes portadora assintomática.
É muito difícil ter acesso ao número de infectados, dado que deixouu de ser uma Doença de Declaração obrigatória em 1999, contudo, segundo dados da Direcção Geral de Saúde, a taxa de incidência média em Portugal entre 1992 e 1996 foi 0,05.

Pediculose do Púbis




A pediculose do púbis é uma infecção da região pubiana, causada por um insecto do grupo dos piolhos, o Phtirus Púbis. Este insecto aloja-se na região de implantação dos pelos pubianos, do baixo ventre, coxas, nádegas e pêlos nasais. Ocasionalmente, este piolho pode ser encontrado nas axilas, pálpebra e supercílios.
Esta infecção atinge tanto homens como mulheres e é para muitos, considerada a mais contagiosa das infecções sexualmente transmissíveis. Facto justificável, pelo facto dos piolhos serem insectos muito activos e que se movimentam com muita rapidez, o que permite que passem de um hospedeiro para outro com muita facilidade. Na passagem de um hospedeiro para o outro os piolhos andam e nunca saltam ou voam, como muitas pessoas pensam.
A transmissão desta infecção não é, exclusivamente sexual, podendo ser veiculada por outros meios: vestuário, roupas de cama, uso comum de toalhas e mesmo, vasos sanitários.
Os sintomas desta infecção tendem a aparecer uma a duas semanas após a infestação, sendo o mais frequente, a intensa comichão. Podem ainda ocorrer algumas lesões, devido ás picadas dos piolhos.
O tratamento é feito à base da aplicação de loções de Benzoato de Benzila, no local infectado para exterminar o insecto e os seus ovos. Este fármaco deve ser utilizado por três noites seguidas e repetido após oito a 10 dias da primeira aplicação. Podem ainda, utilizar-se medicamentos de dose única, mas como neste caso as lêndeas ficam aderidas aos fios, têm depois de ser retiradas, o que torna mais difícil o tratamento. Tal como em muitas outras infecções sexualmente transmissíveis, o tratamento deve sempre ser feito por ambos os elementos do casal.
Na prevenção desta infecção è essencial o cuidado com a higiene corporal. No entanto, a abstinência sexual è o meio mais eficaz de prevenir esta infecção.


Nota: O preservativo em nada ajuda na prevenção desta infecção sexualmente transmissível.